O barro humano
Contei um dia a breve história de uma tremenda guerra numa aldeia, desencadeada por uma suposta troca de duas galinhas de barro. No final do conto, a mulher que despoletara essa guerra, ao pretender destrocar enfim as galinhas, acaba por levar de novo a sua, porque a não distinguia da outra. Assim o motivo fútil da desordem não chegara sequer a ser um mot ivo. O homo homini lupus era-me de trágica evidência nas contendas absurdas que presenciara na infância. Mas só tarde aprendi que aldeia era o mundo. A máxima de Hobbes só se entende como a voz negativa do homem para que a outra, a positiva, também tenha a sua oportunidade e haja paz de vez em quando. O ódio e o amor são pólos de um equilíbrio difícil do homem...