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A mostrar mensagens de março, 2019

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O Concerto nº 2 para Violino e Orquestra de Bruch faz parte do repertório violinístico de praticamente todos os grandes violinistas; de Perlman a Joshua Bell, passando por uma Julia Fischer até um Zukerman. Mas esta notável obra não se esgota no reconhecimento dos grandes intérpretes. Por vezes o tema de uma obra é sobretudo o seu invisível…   Com efeito, Max Bruch é um daqueles compositores conhecido praticamente por   uma única peça, quando escreveu ao todo mais de duzentas. Não é incomum que o sucesso de apenas um livro, ou de uma canção, persiga o seu autor ao longo de toda uma vida. Menos comum é que isso o aflija de uma forma dramática. O concerto terá demorado cerca de dez anos a ser composto, foi o seu primeiro grande trabalho para Orquestra, e a fase final contou com o auxílio do virtuoso violinista Joseph Joaquim que teve um papel fundamental na elaboração da forma romântica, sendo solista o próprio Joachim a quem aliás Bruch dedicou a obra. O concerto foi ...

A Vida Breve

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A Vida Breve : A invenção do Amor - Daniel Filipe (Primeiro programa) - Programa diário de poesia dita pelos seus autores, acrescentando património raro e valioso ao                                                                              

Variação sobre rosas

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                                                                                  Imagem: Domingos Monteiro Como as rosas selvagens, que nascem em qualquer canto, o amor também pode nascer de onde menos esperamos. O seu campo é infinito: alma e corpo. E, para além deles, o mundo das sensações, onde se entra sem bater à porta, como se esta porta estivesse sempre aberta para quem quiser entrar. Tu, que me ensinas o que é o amor, colheste essas rosas selvagens: a sua púrpura brilha no teu rosto. O seu perfume corre-te pelo peito, derrama-se no estuário do ventre, sobe até aos cabelos que se soltam por entre a brisa dos murmúrios. Roubo aos teus lábios as suas pétalas. E se essas rosas não murcham, com o tempo, é porque o amor as alimenta. ...

Da série árias da vida I

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O  Mio Babbino Caro, de Giacomo Puccini, tem lugar cativo em qualquer selecção musical. É uma das mais belas canções de todos os tempos. A ária pertence à ópera Gianni Schichi. O libreto foi inspirado no Canto XXX do Inferno, da Divina Comédia de Dante Alighieri. Quanto à explicação da ária, é uma simples declaração juvenil de amor. Lauretta, a filha de Gianni Schicchi, está apaixonada por Rinuccio, e pede ao pai que faça algo pela família do rapaz, os Donati. (Dante era casado com uma Donati. De inimigos a políticos, este gigante enfiou os desafectos todos nos nove círculos do Inferno). Seguem-se três interpretações Maria Callas:  Grega de nascimento, a inesquecível diva foi tão dramática na vida profissional quanto pessoal.  Apesar de a sua voz ser um nervo exposto, aberta, de uma tonalidade nua, a perfeição da sua técnica, faz com que esteja pouco emocional nesta gravação.                     ...

ZARPAR II fuga sobre um tema

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                                                                                       Shape of things to come (Ciente das coisas por vir) e Wide Awake (Completamente desperto), são refrões decifráveis para Miami Vice; falam-nos de relações fracassadas e sobre o fim dos dias. Uma das muitas razões para se admirar um filme de Michael Mann, é a seguinte: o homem faz filmes de acção inteligentes, para espectadores pensantes. À acção, contrapõe o significado do drama moral. A ponte que estabelece entre a baixa e a alta cultura, é algo que o diferencia bem da produção Hollywoodesca. Mas este conceito – o de aliar cultura de massas a um formalismo que pode ou não ser considerado erudito – de tão repetido, parece não ter perdido a força.  A verdade é que, q...

ZARPAR

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                                                                                Regressar a Miami Vice é algo especial para mim, não só porque fui vê-lo nos idos de 2006 com o meu filho mais velho, mas porque contínuo a considerá-lo um filme subvalorizado. É uma ópera grandiosa de Michael Mann. As suas preocupações estéticas e formais definem o seu cinema. As acuradas reflexões kubrickianas sobre a edição da imagem, isto é, a sensação de tactibilidade que nos transmite, a ampliação da visão, o tratamento da cor colando à imagem o seu peso, e a capacidade de levar as cores a novas tonalidades cinematográficas, (afinal, as cores são diferentes velocidades de luz), são apenas alguns dos aspectos da sua competência técnica. As representações silenciosas dos actores (como em Blackhat), ...

SALVA-ME ARMAGEDON, SALVA-ME

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                                                                          Imagem: Domingos Monteiro "Escreve num postal: como eu adoraria não estar aqui nesta cidade costeira que se esqueceram de bombardear Vem! Vem! Vem - bomba nuclear!" Há paisagens que mantêm o seu encanto em qualquer época do ano. Outras, como certas cidades à beira-mar, ou perdem o seu fascínio fora de estação ou, pior, transmitem uma imagem de devastação, solidão e abandono. Se a sensação inexorável do começo da próxima semana de trabalho for adicionada a esta paisagem, o desconforto e o desânimo fazem-nos querer desistir da segunda-feira e fugir do mundo.                                             ...

O mundo não aguenta

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                                                             "No amor, o anfitrião é o que deixa o outro passar primeiro."  - Karl Kraus Uma análise superficial deste aforismo e, relacioná-lo-íamos com o amor cortês. Mas, não é propriamente isso. O aforismo surge num capítulo intitulado e dedicado a Eros, o Amor, na edição d’O Apocalipse Estável pela Fyodor Books (2015), trad. de António Sousa Ribeiro. Não se trata pois, de uma verdadeira pessoa, nem de uma energia disruptiva, mas eruptiva,  primordial, que faz surgir e desenvolver os seres. É, por conseguinte, um princípio de vida, uma força vital. Importa não confundi-lo com outro Deus a que os romanos chamaram Cupido, cujas flechas desencadeiam as paixões. O Eros primordial, como se sabe, teve como missão fazer passar das trevas à luz todas as divind...

Deus e o Diabo

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                                                       Quem, ao deparar-se com esta tela de Carlos Schwabe, adivinharia o zeitgeist histórico nesta alegoria de “Tédio e Ideal” (1907), bloqueados num abraço torturado, em que a mulher-anjo é transformada em mulher pecado e o pecado em virtude? No entanto, o quadro produz o seu próprio discurso, uma veia, uma artéria que nos permite investigá-lo a fim de estabelecer a relação intertextual com a literatura. Com efeito, a pintura de Schwabe Ilustra um livro banido de tonalidade sombria: o tédio; melancolia; volúpia; luxúria; demónios, maldições; vermes; serpentes; e morte. Folheemo-lo, logo no início, num poema chamado “Ao Leitor”, o autor avisa-nos: “Na almofada do mal é Satã alquímico Quem docemente encanta o nosso espírito". E, para não deixar quaisquer dúvidas do que nos anima o ...

Poema para um homem que não quer dizer o seu nome

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                                                                     Quadro de Otto Dix, Wounded Man, 1924 Poema a um homem que não quer dizer o seu nome Mas com doçura, di-lo: “Legião.” Todos calados, os outros. Imóveis. Mas não perdem uma palavra, nem uma, a mimese. E aqui, agora, hoje, o que sois?  “Apenas um homem à espera.” À espera de quê? Não consegue dizê-lo porque apenas houve na sua cabeça uma voz que murmura: “não mo perguntes.” “Não mo perguntes.” Fica ali, imóvel, sem dizer nada, limita-se a repetir o que todos os outros dizem: mudos como pedras. Respira-os a rastejante cerimónia diária, transfigurados em saturado ar  para um angélico surplace metabolizados na perfeita paisagem de crosta, convertidos em figuras mansas por leques brando...

A VERDADE, variações sobre um tema

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                                                                          I                                                                                                             II III

O AMOR, variações sobre um tema

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                                                                           I                             Tradução: “Eu SABIA que querias, querido… TINHAS de querer!! Sentindo o que sinto por ti… mesmo que seja errado… tinhas de gostar de mim… mesmo que um bocadinho!…” PS: título do livro: “Princípios fundamentais da Matemática”. II Tradução: “-Oh, Alice…tu és quem eu quero para mim. -Mas, Bob…num universo quântico como é possível ter certezas?”                                                           III            ...

O silêncio

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                                                         Secção Ruy Belo cá de casa. Que importa que morramos se a tarde é de sol e o céu se abre às lágrimas que sobre a cidade choras? Esmagam-se lá longe contra a igreja as casas aonde os homens nascem e aceitam a grande humilhação da morte onde as mulheres acenam tristemente panos sujos de não dizerem adeus a nenhum barco onde já ninguém sabe onde os anos começam Pesadamente vão caindo os sinos e tu a um e um desfolhas os olhos sobre o tempo O que trocamos são crostas de silêncio: tivéssemos em teu reino o lugar que esta folha de outono tem sobre o asfalto e a espaços certa música na alma Que importa que morramos se o passado está certo se voltas para nós a mágoa que te molha a face de virmos de tão longe tendo-te tão perto?   Ruy Bel...