Poema para um homem que não quer dizer o seu nome
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Quadro de Otto Dix, Wounded Man, 1924 |
Poema a um homem que não quer dizer o seu nome
Mas com
doçura, di-lo:
“Legião.”
Todos
calados, os outros. Imóveis. Mas não perdem uma palavra, nem uma, a mimese. E
aqui, agora, hoje, o que sois?
“Apenas um homem à espera.”
À espera de
quê?
Não consegue
dizê-lo
porque
apenas houve na sua cabeça uma voz que murmura:
“não mo
perguntes.”
“Não mo
perguntes.”
Fica ali,
imóvel, sem dizer nada,
limita-se a
repetir o que todos os outros dizem:
mudos como
pedras.
Respira-os a
rastejante cerimónia diária, transfigurados em saturado ar
para um angélico
surplace
metabolizados
na perfeita paisagem de crosta, convertidos em figuras mansas por leques brandos.
A cada dia
mais imutáveis.
São enquanto
desaparecem.
Trompe-l’oeil
de uma alma única, perceptível na crispação da acalmia do inominável feitiço:
“apesar de
tudo se transformar, nada se move.”
E nos
interstícios de um elegante Nada recebem a consolação da provisória existência.
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