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A mostrar mensagens de julho, 2019

Outra canção para ti

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                                                                        Cada um de nós pode bem, e está no seu direito, tanto com a metafísica como com a distração e o entretenimento, de fabricar as saídas que entenda para uso pessoal para lidar com o sarro dos dias. Para mim, e já aqui o disse, a música constitui o caso-limite da mais bela perseguição da ausência ou carência de metafísica. Talvez por ser de uma incomunicabilidade própria e indutora de uma interpretação e “apropriação” estritamente individual. Já não é a música, somos nós nela. Hands of time, Mãos do tempo , em tradução livre, é uma ode à alma dos anos 70, onde encontra as reminiscências de um gigante como Marvin Gaye. É um trunfo tirado aqui da manga para qualquer  amante de dança. A deriva amena por onde esta música flui, ...

A MONTANHA MÁGICA REVISITED VI

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“A MÚSICA É POLITICAMENTE SUSPEITA” Ludovico Settembrini                                                                        A imagem é de uma pintura de Heinrich Fueger, com Prometeu a trazer o fogo à humanidade (1817). “ – Bravo! – exclamou Settembrini. – Bravo, tenente! Acabou de definir na perfeição um aspecto indubitavelmente ético da natureza da música: pela sua capacidade particularmente dinâmica de medir a passagem do tempo, ela consegue dotá-lo de valor e de espírito vivo e crítico. A música desperta o tempo e desperta-nos para a sua mais fina fruição, a música desperta…Nesta perspectiva podemos afirmar que é ética.” A arte é ética na medida em que desperta. Mas o que sucede quando actua em sentido contrário? Quando entorpece, anestesia e se ergue como ba...

A MONTANHA MÁGICA Revisited V

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  O TEMPO                                                               A imagem, é um pormenor de uma pintura de Peter Paul Rubens - "Cronos" o Deus do Tempo a devorar um dos seus filhos (1636). No princípio era Úrano, o céu estrelado, e Gaia, a Terra. No que diz respeito à construção do Cosmos, a castração de Úrano por parte do seu filho Cronos a pedido de Gaia, a sua mãe, possui uma consequência absolutamente crucial: o nascimento do Espaço e do Tempo. Do “Espaço”, porque Úrano sob o efeito de uma dor atroz por causa da mutilação foge para o alto, e fica por assim dizer, colado ao tecto, libertando dessa forma o espaço que separa o céu da Terra; e do “Tempo”, por uma razão filosófica mais profunda: graças ao Espaço assim libertado, os filhos – os Titãs – vão poder sair da Terra, de Gaia, a s...

Uma canção para ti

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“Song for you” é uma delicada canção sobre a experiência da dor com o amor.  I fell your heart, I feel your pain I saw your tear fall from your grace (And) I fell in love                                                         Simplesmente, sofremos uma transformação interior diante deste paraíso musical. Não há forças para fixar a realidade. O ambiente sereno e leve, transporta-nos para a um labirinto de sensações, como se o universo na sua origem se ampliasse. Uma balada de seda para acabar a noite.                                                                 

A MONTANHA MÁGICA IV

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A NOITE DE WALPURGIS                                                                 À margem: assim como os andamentos que constituem uma sinfonia, os posts dedicados à releitura d’A Montanha resultam da importância de cada parte que constitui o romance, de cada capítulo, de cada tema e de cada personagem, e menos da enfastiada síntese ao jeito de uma recensão do tipo jornalística.  7 Meses após Hans Castorp ter dado entrada no Sanatório Internacional de Berghof, as ondas do Tempo no seu eterno marulhar trouxeram o Carnaval. Este capítulo dedicado ao carnaval, alude à montanha das bruxas de Fausto, de Goethe, daí o título “ A Noite de Walpurgis”. É nesta famosa noite que Hans Castorp se inicia nas artes do amor. Castorp é órfão desde os 7 anos de idade e, na adolescência, viveu uma paixão homo...

A MONTANHA MÁGICA REVISITED III

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3º tag O QUE É A VIDA?                                                                                                                      Caspar David Friedrich, Caminhante contemplado um mar de nevoeiro (1817/18). Voltemos aos grandes alpes suíços.  Hans Castorp, descobre que a temperatura do seu quarto no Sanatório Internacional Berghof, não vai além dos 7 graus.  Por cada 7 dias da semana, os ciclos das estações sucedem-se, o Outono sucede o Verão, e assim se dá o que tem de se dar: o Inverno. Época propícia para deixar-mos de lado as vivências corpóreas sensitivas, e dedicarmo-nos às indagações do espírito. A chegada do inverno é, por estas paragens, tudo meno...

A Montanha Mágica Revisited II

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A Montanha Mágica 2 tag. A Cabala                                                                                                                          Há livros que nos sugam. Assim que se começa a ler A Montanha Mágica, logo se percebe, tal Hans Castorp percebeu, que dificilmente se escapa deste lugar. Na Montanha Mágica há de tudo: os humanistas e os jesuítas, os que estão de passagem, e os que se deixam agarrar, os que têm um fim e os que acabam sem destino… Há de tudo com efeito, até numerologia cabalística. A numerologia cabalística não foi uma moda que tivesse acompanhado alguns dos mais notáveis pensadores no início do século XX, como Walter Benjamin. Já vem...

MONTANHA MÁGICA REVISITED

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1º tag.                                                                 “A errância, pela qual o homem atravessa, não é algo semelhante a uma fossa que acompanha o homem e na qual ele de vez em quando cai, mas a errância pertence à estrutura interna do Dasein, na qual o homem histórico está situado.”   - Martin Heidegger A literatura, é coisa de sonhadores. É sabermo-nos dentro de uma história, ou com a História, à sua mercê… A Montanha Mágica é um dos meus livros de referência. É um romance que leva sobre si o peso da história – fixa a narrativa num período em que o sonambulismo grassava na Europa antes da Primeira Guerra Mundial.  É “o” grande romance filosófico do Século XX. Li-o a primeira vez a partir da tradução inglesa na edição Livros do Brasil da magnífica Colecção dois Mundos. ...

Herberto Helder Revisited

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                                                            É amargo o coração do poema. A mão esquerda em cima desencadeia uma estrela, em baixo a outra mão mexe num charco branco. Feridas que abrem, reabrem, cose-as a noite, recose-as com linha incandescente. Amargo. O sangue nunca pára de mão a mão salgada, entre os olhos, nos alvéolos da boca. O sangue que se move nas vozes magnificando o escuro atrás das coisas, os halos nas imagens de limalha, os espaços ásperos que escreves entre os meteoros. Cose-te: brilhas nas cicatrizes. Só essa mão que mexes ao alto e a outra mão que brancamente trabalha nas superfícies centrífugas. Amargo, amargo. Em sangue e exercício de elegância bárbara. Até que sentado ao meio negro da obra morras de luz compacta. Nu...

Presunção e…

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                                                                                           O Filósofo, Max Klinger, Opus XIII, da morte II, 1909 Max Klinger foi um admirador do pensamento Schopenhauer e a ele lhe dedicou toda uma série de obras. Está “ Ou-Ou” (ou isto ou aquilo) para Kierkegaard assim como está “e” para Schopenhauer, cujo título da sua principal obra “O mundo como Vontade “e” Representação – constitui uma simplificada síntese da sua filosofia. Isto é, a concepção que temos da vida, dos outros, do mundo e, inclusivamente de Deus , entendemo-la somente na extensão da nossa representação. Mais: para Schopenhauer existe uma base subjacente a essa representação: a vontade. Esta é independente de toda a experiência e de todo o conhe...

Nina Simone revisited

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A alta sacerdotisa da alma reúne na sua música uma ampla gama de estilos musicais que vão do blues; da pop, jazz; à música clássica. Parece conjurar o piano ao ponto de transformar uma música popular numa fuga ao estilo de Bach. Não é jazz, nem música erudita, mas parece tudo isso ao mesmo tempo. Mas é muito mais do que isso, talvez; a verdadeira música clássica negra. Ao contrário de J.S. Bach, a sua música não serve para ” honrar somente a Deus”, honra sim, o peso da existência humana.                                                                                                                       "Little Girl Blue" é como uma canção de embalar, com docilidade e acom...