A MONTANHA MÁGICA REVISITED III
3º tag
O QUE É A
VIDA?
Voltemos aos
grandes alpes suíços. Hans Castorp, descobre que a temperatura do seu quarto no Sanatório Internacional Berghof, não vai além dos 7 graus. Por cada 7 dias da semana, os ciclos
das estações sucedem-se, o Outono sucede o Verão, e assim se dá o que tem de se
dar: o Inverno. Época propícia para deixar-mos de lado as vivências corpóreas sensitivas, e dedicarmo-nos às indagações do espírito. A chegada
do inverno é, por estas paragens, tudo menos abrupta ou inesperada, antes amena
e, não muito diferente de alguns dias vividos em pleno Verão. Há muito que as pessoas daqui perderam o costume de considerar a neve uma exclusividade do Inverno.
Qualquer que seja a estação do ano e o tempo que faça, as montanhas
majestosas, acenam, repletas de neve.
Com uma
certa personalidade contemplativa, Castorp procura reflectir sobre o que é
vida: biológica, claro. Pergunta ociosa, não fosse impulsionada pela
curiosidade científica. Sendo um homem de formação técnica, não lhe ocorre
perguntar o que é primeiro: o ser ou o pensar, o espírito ou a natureza, o
Cosmos ou a consciência, a matéria ou o espírito.
Que pode a
filosofia, frente à eficácia da técnica, frente à operosidade e ao rendimento
do técnico especializado, do engenheiro, do tecnocrata, da máquina electrónica?
Nada. Oh, Filosofia inútil. Substitua-se a História pela Sociologia, a
Filosofia pela Matemática, a Literatura e as Artes pela batota digital.
Mas dizia, Castorp mune-se de uma pilha de
livros sobre biologia, e dá início às suas investigações. “O que era a vida? Ninguém sabia. Ninguém conhecia o momento em que,
na esfera da natureza, a vida despertava e se inflamava”.
Castorp, acaba
por perceber que, desvendar os mistérios da biologia não é desvendar esses
mistérios, mas apenas o que aí se não via e acaba. A realidade única da vida e
do mundo é o seu inexplicável e o seu mistério. Nada se explica quando apenas
se constata.
To be continued.
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