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A mostrar mensagens de novembro, 2018

Hélia Correia

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                                                         Hélia Correia Há momentos na literatura portuguesa que podíamos chamar de "compensação".“Um Bailarino na Batalha”, o último livro de Hélia Correia, é a prosa que sobra da poesia e não o contrário. Uma espécie de leitura bíblica do fluxo de expatriados a que temos assistido nos últimos anos. A perda de chão e a consequente travessia no deserto.

A febre, a paixão, a inquietação, o fogo da inteligência, a ironia e a angústia.

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                                                                                        Brincando, brincando, como quem não quer a coisa, lá vou acrescentando os amigos que habitam as paredes dos meus dias ao aquário digital. Se há sítios em que me sinto em casa, é no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia (ou Museu Espanhol de Arte Contemporânea, MEAC), onde está “Figura Deitada” (1966) de Francis Bacon. Como David Sylvester observou: “A falta de interesse erótico pessoal de Bacon por mulheres nuas não fez nada para impedir que essas pinturas fossem tão apaixonadas quanto as dos corpos masculinos que o obcecavam.”  Francis Bacon, que viveu as sucessivas falências das duas guerras mundiais, foi além da nossa (in)fiel imagem   ao espelho, par...

Onde estamos, para onde vamos, nada importa desde que esteja contigo

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                     “don't matter where we are, no long as I got you"  Oh man, sete minutos e quarenta segundos de um embelezamento quase orquestral. Aqui há de tudo: rock, blues, jazz, até chegar a um elaborado solo de flauta no final cantado em direcção às terras do Mississippi - “That my grandpa left for me/To help me pick up /The land for our family”. “Just music man”, assim diria Charles Mingus a propósito desta “Where We Are” de Curtis Harding. Como quem diz: frui isto e não balouces nas elaborações sintáticas. Do melhor soul que se vai fazendo.

Redondas formas de sensação

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                                                                                                                          Foto by Jean-Baptiste Mondino À guisa de uma de uma declaração de gosto, esta rapariga é, sem dúvida, a pianista de maior glamour e beleza dentro da música clássica. No entanto, paga um certo preço pelo reconhecimento público. Ao virtuosismo não se lhe perdoa tudo. Isto é, parece que não é do agrado de algumas figuras gradas da crítica, o facto de quebrar os códigos de vestuário para mostrar o quanto é feminina. Por conseguinte, há quem considere a quebra do dress code, um conflito ideológico, tendo por base a ideia de que, na música clássica, ...
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                                                                                  O que agrada e o que se anda à procura                                                                                                                                "No momento em que o belo se reduz àquilo que me agrada a mim, todas as conversas sobre ele começam a saber mal. Aliás, a palavra caiu em desuso e converteu-se numa espécie de interjeição. Sente-se qu...
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                                                                                                 Estudo sobre cor                                                                                                                                By me: Estudo sobre cor.                                           ...
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                                        Razões meridianas II                                                                                   No extremo dos extremos     "A Arte está a chegar ao fim? A poesia morre por se ter olhado de frente, tal como morre aquele que viu Deus? O crítico que considere o nosso tempo, ao compará-lo com o passado, não pode deixar de exprimir uma dúvida e uma admiração desesperada pelos artistas que apesar de tudo continuam a produzir. Mas quando alguém prova, como Vledimir Widlé num livro rico de cultura, de razão e lamentos, que a...
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                                           ESTUDO SOBRE HIPER-REALISMO                                                                                          By me: estudo sobre hiper-realismo (pastel sobre cartolina, 70x50, 2016) Não sou especial apreciador da estética hiper-realista, porém, contrariamente ao que vulgarmente se entende, o objectivo último do Hiper-realismo não pretende ser uma cópia fiel do real nem procura a máxima semelhança com o objecto representado. Nem tão-pouco é um exercício fútil da arte de bem pintar. A questão que a mimese levanta é de outra ordem (histórica). Isto é: o híper-realismo é último reduto na...
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                                            A sonata do consentimento à Vida A glória literária pode encontrar os seus grandes símbolos nos nomes de Marcel Proust, Hermann Broch, Robert Musil, Franz Kafka, Thomas Mann e James Joyce. Um dos grandes fascínios que Ulisses desperta, é porque se trata cabalmente de um texto simbólico-labiríntico. O excerto que aqui se apresenta, só encontra paralelo na música. Só em Beethoven encontrarmos a energia deste paroxismo narrativo na Sonata Appassionata. A ambição de Joyce não foi pouca; se disse que gostaria de fazer com que tudo entrasse neste romance; Beethoven definiu a Appassionata como um consentimento à vida. Neste excerto, Joyce começa por soltar uma massa narrativa ligada à mãe prana: a água. Símbolo e origem da vida, da fecundidade, da fertilidade, da transformação, da purificação e da força. Findas as errância...
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                                                      O JOGO DE ESPELHOS By me, título: "realidade e aparência", pastel sobre cartolina, 70x50, 2016 (a partir de Man Ray). Fica esta etiqueta para o dia Mundial da Filosofia (15/11/2018). Na verdade, se é que alguém está interessado nessa senhora de enterro e funeral feito, às mãos de Protágoras e Nietzsche, respectivamente, não devia ser o dia mundial da filosofia, mas, das filosofias. É uma mulher de muitos caminhos. Há um provérbio popular que diz: “Sonhava o cego que via e sonhava o que queria.” Diccionariamente falando - entende-se por “Real” aquilo que tem existência verdadeira e efectiva, isto é, opõe-se de um modo geral ao virtual, ao falso, ao aparente, e por aí fora. Epistemologicamente falando - o Realismo é uma doutrina que afirma a existência real das coisas indepe...
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                                                                      A audácia da distorção O progresso na Arte não está mecanicamente ligado aos progressos na sociedade. Com efeito, o progresso não vai sendo percebido no campo político, moral e religioso, mas no campo técnico. Em que reside então o progresso na Arte? O artista das cavernas sabe desenhar um bisonte de um modo genial. A mão do artista da Renascença não é mais soberana que a do seu antepassado. Exprime no entanto outra coisa. E mais riqueza na sua obra. O progresso é uma qualificaç ão crescente da qualidade , dixit Claude Roy. Isto é: O homem não diz melhor de século para século: diz mais. Pode acontecer que o seu talento não acompanhe as riquezas que quer exprimir, mas acabará por se recompor e dominar a matéria de forma mais vasta. ...
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                                                                    A Utilidade do Inútil                                                                                                                                                                                      “Ser artista, significa: não calcular nem contar; amadurecer como uma árvore que...