ESTUDO SOBRE HIPER-REALISMO
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By me: estudo sobre hiper-realismo (pastel sobre cartolina, 70x50, 2016) |
Não sou especial apreciador da estética hiper-realista,
porém, contrariamente ao que vulgarmente se entende, o objectivo último do
Hiper-realismo não pretende ser uma cópia fiel do real nem procura a máxima semelhança
com o objecto representado. Nem tão-pouco é um exercício fútil da arte de bem
pintar. A questão que a mimese levanta é de outra ordem (histórica). Isto é: o
híper-realismo é último reduto na Arte em que o Homem procura travar uma
batalha (perdida, diga-se) com a técnica, com a batota digital, com o “monstro
de um olho só”: a máquina fotográfica. E não é porque esta e a televisão
fizeram com que muitos artistas abandonassem a Arte figurativa. Aliás, disso
fizeram prova os Damien Hirst deste mundo, ao descobrirem que as suas telas se
assemelhavam a Bacons de má qualidade. Não é Francis Bacon quem quer.
De resto, o erotismo da técnica e da maquinaria é uma figura
bem sinistra que encontra em Frankenstein a sua celebração, e a sua profecia
mórbida desde a Primeira Guerra Mundial até à actual pegada ecológica. O
Hiper-realismo procura demonstrar quanto os sentidos nos enganam: a indistinção
entre a cópia e o real. Muitos interrogar-se-ão se esta imagem é o produto de
uma máquina, quer dizer, se é uma fotografia. A obra hiper-realista é uma
poderosa metáfora sobre a realidade. No fundo, está dizer-nos que a vida é uma
ilusão, que nenhuma imagem é real. O que se interpõe entre uma coisa e outra? O
que faz de um trompete um trompete? Seriam estas, por exemplo, as perguntas de
Platão. Assumindo o exagero, paradoxalmente, o Hiper-realismo propõe que a
ideia é mais importante do que a imagem, privilegiando desse modo a filosofia
sobre a técnica. Concluindo: a persecução da obra hiper-realista é de longo
alcance platónico e que se pode formular deste modo: ver não é acreditar: é
questionar.
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