O que agrada
e o que se anda à procura
"No momento
em que o belo se reduz àquilo que me agrada a mim, todas as conversas sobre ele
começam a saber mal. Aliás, a palavra caiu em desuso e converteu-se numa
espécie de interjeição. Sente-se que é melhor por enquanto, embora
jamais se possa dispensá-la, pois o belo já correspondeu àquilo de que se anda
à procura, àquilo que mais se ama. Foi Hermann Broch que , nos seus textos sobre
o mal no sistema de valores de arte, exigiu abstenção, numa dieta purificadora,
exigiu que se deixasse cair a palavra «belo» quando se fala da arte, ao mesmo
tempo que convertia no próprio sistema da arte. Na verdade, a beleza não tem
pedagogia possível. No termo do seu escrito das proporções dos corpos e dos
rostos, Durer, depois de ter mostrado com maestria o método diagramático capaz
de restituir as proporções, exclama (como se gritasse): e como distinguir pelo
juízos dois homens belos? E conclui: tais são as trevas a que o entendimento
sucumbe."
Maria
Filomena Molder in Dia Alegre, Dia Pensante, Dias Fatais. Relógio D’Água
Editores, 2017.
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