O JOGO DE ESPELHOS




By me, título: "realidade e aparência", pastel sobre cartolina, 70x50, 2016 (a partir de Man Ray).


Fica esta etiqueta para o dia Mundial da Filosofia (15/11/2018). Na verdade, se é que alguém está interessado nessa senhora de enterro e funeral feito, às mãos de Protágoras e Nietzsche, respectivamente, não devia ser o dia mundial da filosofia, mas, das filosofias. É uma mulher de muitos caminhos. Há um provérbio popular que diz: “Sonhava o cego que via e sonhava o que queria.”

Diccionariamente falando - entende-se por “Real” aquilo que tem existência verdadeira e efectiva, isto é, opõe-se de um modo geral ao virtual, ao falso, ao aparente, e por aí fora.

Epistemologicamente falando - o Realismo é uma doutrina que afirma a existência real das coisas independentes da consciência do Zé que as percebe. Também é conhecido por “Realismo ingénuo”, aquele baratinho senso-comum, que acredita que os nossos sentidos dão-nos directamente o mundo. Vá-se lá dizer o contrário com uma dor de dentes.  Em todo caso, é gente que ignora o debate filosófico sobre a natureza da experiência consciente. Gente que distribui biqueirada a torto e a direito em figuras que não são propriamente menores, como Descartes, Locke, Berkeley, Hume e Kant, figuras essas que defendem que o mundo que vemos não é o mundo real, mas apenas a percepção da representação interna desse mundo gerado pelo dispositivo a que chamamos cérebro. Tem falhas: produz alucinações e ilusões. Mas também tem a capacidade prodigiosa de gerar imagens dos sonhos!



Quanto ao mundo das aparências, parece um jogo de espelhos. O aparente que parece e que não é, e mais, dá a entender o que não é ou não há. Ora, a essência e o perfume da filosofia, durante séculos, foi debater o modo como se pode conhecer a realidade. Isto é: distinguir entre realidade e aparência. Como se sabe, os argumentos tinham por base a preocupação quanto à validade dos sentidos. Embora a concepção do mundo derive da informação dos sentidos; pergunta para um milhão: poder-se-á confiar neles para se conhecer a verdade? Platão, o pai disto tudo, sugeriu num livrinho, mais precisamente o VII da República, que talvez sejamos como prisioneiros numa caverna, isolados do mundo de tal forma que só podemos ver uma sombra do real.  

  Cá para nós, a realidade não está só de um lado, do lado do mundo ou do lado da cabeça das pessoas. Na verdade, ah essa senhora!,  a realidade é um jogo como se fossem dois espelhos reunidos no mesmo quarto; o primeiro todo voltado para fora; o segundo, em contrapartida, voltado para o interior. O que não quer dizer que os dois espelhos se encontrem de costas um para o outro. Daí o jogo. Lá está, o jogo de espelhos.                                            

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