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A mostrar mensagens de abril, 2019

O fogo do sol

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      Adagio do Concerto para Piano em Sol de Ravel                                                 Há quem diga que o segundo andamento do Concerto para Piano em sol de Ravel é, a música mais bonita para um andamento lento na história da música. Para mim, os chamados impressionistas franceses (Ravel e Debussy), são apenas a parte meio-cheia da minha xícara de chá: continuo a sorver do lirismo dos andamentos lentos do Romantismo e do  Classicismo , senão com a mesma doçura, pelo menos, com a suficiente sem me deixar um amargo de boca. Este “Adagio Assai” é uma peça comovente e notavelmente bem escrita. Ravel em termos de realização, de harmonia, de elegância - tocou nos fundamentos da melancolia - no que pode ser considerado uma valsa lenta. Quer dizer: talvez o essencial da melancolia na música (em geral) constitua o caso-li...

A mãe de todas as caricias

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                                                                 Ainda Cio-Cio.  É costume dizer-se que a juventude é a idade das paixões. Mas faltaríamos à verdade se imputássemos estas subidas de febre a uma tomada de compromisso pronunciado.  A história de amor não correspondido entre a jovem gueixa e o oficial naval americano tem tudo para acabar mal.  Já sabemos que Pikerton vive de acordo com uma filosofia de vida que lhe permite ter uma mulher em cada porto para ser feliz, apenas contraiu casamento com Cio-Cio para uso de estadia em Nagasaki. Afinal, a aventura sair-lhe-á barata, por patacas, desfrutará de uma bela casa e terá como mulher uma jovem encantadora mediante um contrato de casamento por 999 anos... E, pelas leis do país, poderá desfazer o relacionamento a qualquer momento. ...

Uma borboleta sem asas

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                                                        Madame Butterfly é, talvez, a melhor ópera já escrita. É uma história trágica de amor e sacrifício inspirada em factos reais. Puccini imortalizou-a numa das óperas mais comoventes que conheço. Situa-se no início do século XX, no Japão, a história de Pinkerton, o oficial da Marinha Americana que se casa com Cio-Cio, a jovem gueixa de apenas 15 anos, que pretende abandonar quando o seu tempo de serviço for concluído. Sharpless, o cônsul dos Estados Unidos em Nagasaki a quem Pinkerton não esconde as suas intenções, adverte-o da gravidade que seria magoar os sentimentos de Cio-Cio que acredita na seriedade do casamento pois está apaixonada por ele. “Cio-Cio”, é o nome para borboleta em japonês. As borboletas são isso: delicadas flores que voam. Pétalas voadoras que dão cor à natureza. ...

Do amor intocado

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À escolha clássica: “A Morte em Veneza”, o livro ou o filme? Gosto tanto do livro do Thomas Mann como do filme do Luchino Visconti. Se no filme está ausente o estilo narrativo (algo que não é filmável), os monólogos interiores e a capacidade subjectiva de imaginar, acresce-lhe a importância da obra de Mahler. Com efeito, Gustav Mahler foi o mais importante compositor pós-moderno, e um dos melhores não só do seu tempo, mas também de todo o século XX. Aos apontamentos beethovianos enriquecedores dos ambientes,  a 5ª Sinfonia de Mahler vem ocupar quase por inteiro o filme e a memória que tenho dele. Se o Aschenbach escritor de Thomas Mann é substituído pelo Aschenbach compositor de Visconti, a vivência do drama interior - da mesma verdade sentida - é repercutida no ambiente sonoro de Mahler.  A viagem de Aschenbach a Veneza baseia-se na viagem que Thomas Mann fez com a mulher, também a Veneza, altura em que viu o jovem Tadzio (bastante diferente do actor que dá corpo ...

Wild One

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                                    Wild one, won't you please come home? You've been away too long, will you We need you home, we need you near Come back wild one, will you? How can we live without your love? You know that could kill you How can we carry on When you are gone, my wild one So you go your way wild one I'll try and follow And if you change your mind I will be waiting here for you tomorrow For I would beg for you I would steal and I would borrow I'd do anything, anything at all To end this sorrow Wild one The gypsies warned of the danger You can laugh and joke with friends But don't you ever talk to strangers Although their offers may be sweet And I'd bet and I would wager Away you'll stray and never come back To those who love and made you

Diz-me: qual de nós era capaz de encher por inteiro o coração do outro?

O Som que os Versos Fazem ao Abrir : Víctor Matos e Sá - Fidelidade. A poesia numa conversa com Ana Luísa Amaral e Luís Caetano. - Análise e leitura de poemas de referência ...da beleza intolerável! Quem, digam-me, depois de escutar isto, é capaz de arriscar uma palavra numa página em branco?

Do que nos escapa e nos interpela

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Se leio um livro e ele torna o meu corpo tão frio que fogo algum o pode aquecer – sei que isso é poesia.     - Emily Dickinson                                                                                 A Babe

Não é a palavra que faz a poesia

A Vida Breve : Léo Ferré - Programa diário de poesia dita pelos seus autores, acrescentando património raro e valioso ao arquivo da rádio.

O humanismo explicado às criancinhas

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                                                            (A Babe, créditos meus) [...] P. As humanidades revelaram-se incapazes de humanizar? Continua a acreditar que a educação literária encoraja paradoxalmente a crueldade e a barbárie? G. S. O nazismo, o comunismo, o estalinismo convenceram-me do seguinte paradoxo fundamental: a cultura livresca – a bookishness, para empregar uma velha palavra inglesa, que diz bem aquilo que quer dizer -, a cultura literária mais elevada, todas as técnicas da propaganda e da formação literárias não só acompanham a bestialidade, a opressão e o despotismo, como, sob certos aspectos, o encorajam. Ao longo de toda a nossa vida, somos formados pela abstracção, pelo fictício, e acabamos por adquirir um certo poder – um pretenso poder – de nos identificarmos com o fictício, de o ens...