A Reprodução Proibida, René Magritte, 1937. “Eu é um outro”, escreveu Rimbaud numa das suas mais célebres frases. A proposição pode ser interpretada no sentido (duplo) Heideggeriano. Quer dizer, num primeiro tempo, a linguagem surge-nos enquanto sistema ou natureza autónoma que interpela o homem; num segundo, como perda da autenticidade (ou decadência) em que passamos a um “nós” totalitário como característica da sociedade de massas. Porém, Magritte ao proibir a auto reprodução, proclama que não há existência de um “eu” que não se subtraia a um “tu”, para tal, questiona os limites da reprodução nesta era do vazio , mostrando um homem em frente a um espelho, onde o reflexo não é a imagem do seu rosto, mas das suas costas: “o eu é detestável”, afirmaria igualmente Rimbaud. Em “Reprodução P...
Desperdicei o tempo, e agora é o tempo que me desperdiça. Pois fez de mim o seu relógio. Os meus pensamentos são minutos, e com suspiros tocam No mostrador dos meus olhos Onde o meu dedo, como um ponteiro Avança ainda, limpando-lhe as lágrimas. - Ricardo II A força viva da arte de William Shakespeare ilustra bem o modo como compreendemos o tempo. No famoso solilóquio de Ricardo II antes de morrer, o rei compara-se a um relógio. É uma analogia na qual compara os seus olhos ao mostrador, o seu pensamento aos minutos, e os seus dedos aos ponteiros do relógio. O tempo é um dos enigmas mais antigos da filosofia. E é de tal modo importante, já que a filosofia, desde os seus primórdios, chegou a definir a verdade, como o contrário do tempo – a eternidade. Como se sabe, Platão estabeleceu a eternidade para definir o ser de tudo aquilo que é. Quer dizer: aquilo que não muda é que é a verdade. A partir daqui, traçou-se a linha me...
Por estes dias a atenção mediática do universo musical centrou-se em torno da celebração dos oitenta anos de Bob Dylan. Certamente, tudo ou quase tudo, foi dito para honrar merecidamente a sua longa carreira. Não quero acrescentar nada porque, chegamos a um ponto em que o que quer que tenhamos lido a seu a seu respeito, ficamos condenados a ler apenas aquilo que já sabíamos, o que só vem demonstrar a sua relevância cultural e a certeza de que estamos na presença de alguém muito impo...
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