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A mostrar mensagens de outubro, 2019

O que pode a Arte? III

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“Aquele que vem ao mundo para nada perturbar não merece nem consideração nem paciência.”  - René Char                                                               Primeira lei da Dialéctica, segundo Hegel: “Para a dialéctica, nada há de definitivo, de absoluto, de sagrado ante ela, ela mostra a caducidade de todas as coisas, e nada existe para ela senão o processus interrompido do devir e do transitório”. Se quiséssemos encontrar uma figura da linguagem que correspondesse à ideia de dialética, seria a antítese: um método (diálogo) em que a contraposição de ideias nos levariam a outras ideias. Quer dizer: que nos levariam a pensar ou a emitir um juízo contrário às ideias que tínhamos inicialmente. Por conseguinte, a verdade, a verdade autoritária, é esgotada através da dialéctica. Curiosamente,...

O que pode a arte? II

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O que pode a arte? II Por Luís Miguel Oliveira (Jornal Público, 11 Outubro 2019)                                                          O que se quer do cinema, para não perguntar da arte em geral? A julgar pelo ar do tempo, quer-se que nos sossegue, que nos mostre o bom caminho, que seja um espelho do bom comportamento, individual, colectivo, social, político. Espelho desses comportamentos, reflexo mais ou menos distanciado segundo o olhar do autor que o enforma, isso o cinema e os filmes sempre foram. Pequenas cápsulas de tempo, que conservam, umas vezes mais involuntariamente do que outras, mas sempre com um mínimo de precisão, o ar de uma época, os seus medos, fantasias e aspirações. Mas nada disso tem que ressoar como “positivo” ou “exemplar”. Vejam-se as reacções extremadas, e nalguns casos até alarmadas, perante o Joker ...

O que pode a Arte?

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                                                                                                           "Entretanto penso por vezes   Que é melhor dormir do que estar assim sem companheiros, Nem sei preservar assim, nem que fazer entretanto,   Nem que dizer, pois para que servem poetas em tempo de indigência?” Holderlin, Pão e Vinho, p.75 (Elegias). Trad. e prefácio de Maria Teresa Furtado, Assírio &Alvim. 1999.                                                                            ...

É a vida!...

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"É a vida, e por mais estranho que pareça há pessoas que se divertem a dar pontapés nos sonhos dos outros Mas eu não deixo, não deixo que isso me derrube porque este velho e belo mundo continua a girar"                                                         Com toda a contaminação que comporta ver duas vezes o mesmo filme numa semana, diria que, até agora, Joker é o meridiano universal. É o casamento perfeito entre Joaquin Phoenix e o seu personagem, enquanto todos os outros papeis não passaram de casos. É demasiado fácil dizer que Todd Philips romantizou o realismo. É óbvia a tentativa de transformar o género fantástico em realismo, conferindo ao Joker um rosto mais humano. Esta consciência representa o choque entre o realismo e o género fantástico, entre o banal e o exótico, o delírio e o sonho, o real e a fantasia, da ...

Que entrem os palhaços (e siga o circo)!

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                                                              “Send in the Clowns”, em tradução livre, Que Entrem os Palhaços , faz parte da banda sonora “Joker”, o grande vencedor do Leão de Ouro do festival de Veneza, realizado por Todd Philips, e interpretada aqui pela imaculada “voz” de Frank Sinatra. Apesar das diferenças entre os três jokers que fazem parte da historiografia de Hollywood, a sua imagem passou a ser um signo através do qual passam os sinais dos tempos,  e que que nos proporciona simultaneamente o gozo e a perturbação de reconhecermos de imediato os modelos de crise do mundo.  O Joker de Todd Philips não encontra quaisquer reminiscências no psicopata dandy interpretado por Jack Nicholson, ou no agente do caos, por Heth Ledger, nem em qualquer super-vilão; mas num vencido da vida, a...