Que entrem os palhaços (e siga o circo)!
“Send in the
Clowns”, em tradução livre, Que Entrem os
Palhaços, faz parte da banda sonora “Joker”, o grande vencedor do Leão
de Ouro do festival de Veneza, realizado por Todd Philips, e interpretada aqui
pela imaculada “voz” de Frank Sinatra. Apesar das diferenças entre os três jokers
que fazem parte da historiografia de Hollywood, a sua imagem passou a ser um
signo através do qual passam os sinais dos tempos, e que que
nos proporciona simultaneamente o gozo e a perturbação de reconhecermos de
imediato os modelos de crise do mundo.
O Joker de
Todd Philips não encontra quaisquer reminiscências no psicopata dandy interpretado
por Jack Nicholson, ou no agente do caos, por Heth Ledger, nem em qualquer super-vilão;
mas num vencido da vida, a quem o sistema de proteção social deixou sem assistência
médica entregue à sua própria loucura até descambar em homicídio.
Sabemos por
experiência própria que se estivermos num circo e houver um acidente - digamos
que o trapezista caia - entrariam os
palhaços para nos distrair. E como foi dito por estes dias - já que o mundo
é uma palhaçada – Que Entrem os Palhaços.
Mas nada melhor
do que a amplificação da “voz” de Sinatra para dar uma face aos desvalidos da vida que não têm voz
audível. Que Entrem os Palhaços é um
lamento cantado na qual o personagem reflecte sobre as ironias e os
desapontamentos da sua vida. Enquanto canção de amor pode ter uma imagem atípica
o uso de um circo como metáfora do amor, mas considero-a claramente romântica. Não
é um amor não correspondido, mas um amor que, por algum motivo, foi incapaz de
sobreviver.
E a verdade
é que, quando comparamos esta versão de Sinatra com as de outros grandes
interpretes, se quisermos exprimir uma qualidade específica teremos de
radicá-la num húmus riquíssimo em que o imaculado da sua voz parece pôr-nos as
coisas mais ao alcance da alma, desvendando-as ou desvelando-as numa espécie de
epifania. É uma voz que no seu modo
inimitável, inaugura de cada vez um mundo
de luminosidade. Um clássico absoluto para ouvir em loop.
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