Um dia serei livro
Livro, livro. Um dia serei livro.
Com a maternal cumplicidade da casa.
Casa que a folhagem das páginas
anuncia.
Erigida –
na elevação da palavra vida.
Livro que é casa.
De olhar nu habitarei a voz escrita,
desprendido do corpo, do cansaço
amordaçado dos dias,
enquanto a bruma vem sobre as folhas
e repousa nas mãos
toda a música da terra.
Na floração das sílabas
onde a luz é feliz e se demora,
repete em letra de lei: mulheres, homens, crianças.
Livres.
Não há outro lugar para viver
que não seja o dia inicial.
Novo.
Até ao fim.
Para Eugénio de Andrade e Herberto Helder para quem “só a palavra é real”.
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