Para a Babe

 

 

                                                                                       



 O Verbo Ser

 

Para que não haja dúvidas de entender os modos de funcionamento da linguagem; o verbo ser está na mesma ordem de importância do existir (o que pode ser um fetiche).

 

O filósofo Giorgio Agamben, determina como o ser qualquer pode aceder à sua possibilidade mais imanente: 

«O ser, que é o existente, é para sempre salvo do risco de existir como coisa ou de ser nada. O existente, abandonado no meio do ser, é perfeitamente o oposto.»

in A Comunidade que Vem, p.81, trad.António Guerreiro, Editorial Presença, 1993.

 

Assim, vamos pegar num existente e “lançá-lo no meio do ser”.

Isto é:  seja na terceira pessoa do pretérito perfeito; foi, na primeira pessoa do presente do indicativo; é, seja na terceira pessoa do futuro presente; será, Arthur Rubinstein funda nele o poder referencial de todos os pianistas. E - é - o pianista preferido da Babe.

 

Tal desiderato obriga a uma ideia de justiça, pureza e honestidade. Justo: eis a palavra que o pode nomear com melhor exactidão. Já aqui o dissemos. Nunca totalitário, ainda que soubesse ser imperioso; terno e viril, o touché de Rubinstein condensa a civilização que forjou o homem moderno desde os tempos de Homero. Não sou o único a dizê-lo.

 

O que surpreende nas suas interpretações é a ausência de ênfase. Não é por acaso que os registos de imagem se focam essencialmente na sua fisionomia facial. O seu ego não é interposto entre a música e quem a escuta.

Rubinstein representa a grande fractura que nos afasta do Romantismo e dos chamados leões do teclado. Ele assistiu ao desaparecimento do mito pianista-compositor herdado de Lizst: uma espécie de mago a quem se permitiam todas as liberdades, certamente, em nome do fascínio que exercia como criador. Rachmaninov terá sido um dos últimos desta linhagem iniciada com Chopin.

 

A sua pureza pianística é surpreendente, tendo em conta a idade no registo de imagem deste Concerto (para Piano e Orquestra nº 2 de Chopin). Uma coisa é certa: a sua música não adquiriu um único cabelo branco.

 

Se a técnica pianística se pode medir, por assim dizer, pela capacidade de fazer esquecer a inércia do mecanismo que se interpõe entre o pensamento do intérprete e o som que ele deseja reproduzir, então era, é, e será “o” grande técnico. Veja-se o nível de excelência apesar da idade. A intemporalidade da sua arte faz dele um pianista sempre vivo.

 

Rubinstein ensina-nos a respirar.  Respirar devagar, “no sopro reticente do silêncio”.                         


                                                         


      

Comentários

  1. Rubinstein ensina-nos a respirar. Respirar devagar, “no sopro reticente do silêncio”.

    É isso...

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