O furacão Carter

 

                                                            

                                              

Por estes dias a atenção mediática do universo musical centrou-se em torno da celebração dos oitenta anos de Bob Dylan. Certamente, tudo ou quase tudo, foi dito para honrar merecidamente a sua longa carreira. Não quero acrescentar nada porque, chegamos a um ponto em que o que quer que tenhamos lido a seu a seu respeito, ficamos condenados a ler apenas aquilo que já sabíamos, o que só vem demonstrar a sua relevância cultural e a certeza de que estamos na presença de alguém muito importante.      

                                                            

                                           

A memória que tenho de Dylan surge-me fortemente ligada ao meu pai, trouxe o vinil “Hurricane Carter” de Londres, era eu miúdo. O gosto musical por assim dizer devo-a a ele. Recapitular episódios da infância, adquire uma nova camada de espessura, uma nova tradução, quase física, chorosa, com a ternura possível.                                     

                                                        


Mas voltemos a “Hurricane Carter”, apesar de manter a integridade artística (estrutura melódica, harmónica e rítmica, rima e métrica), a canção foi escrita e composta por uma certa ideia política, e é demasiado boa para servir de fórmula, demasiado idiossincrática para servir de modelo. Está para além disso: Dylan fala como um poeta e canta como um insurrecto. A canção arrisca-se fundamentalmente a corrigir qualquer canção de intervenção ou de protesto. “Hurricane Carter” não foi vítima de erros judiciais, e sim de perseguição racista e acusado de três homicídios que não cometeu. O manifesto sobre a injustiça cometida a Rubin Carter, funcionou como um furacão num filme-catástrofe, a sua rota foi promovida a “fenómeno” cultural arrastando tudo à sua volta ao divulgar o inferno da sua história.

                                                             

            Nota: expandir o ecrã para uma melhor resolução das legendas              


Se nos lembramos do movimento “BlacK Lives Matter”, a canção ganha um novo e estanho sentido, porque embora nada esteja parado, a perseguição racial nos EUA permanece na mesma. Long live Mr. Dylan.

 

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