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“Ela” é um filme do realizador Spike Jonze que entronca no género de ficção científica. Ganhou o Óscar de melhor argumento original. O drama parte da história do escritor Theodore (Joaquin Phoenix) que se apaixona pela "inteligência artificial" Samantha (na voz de Scarlett Johansson). O argumento usa os nossos fantasmas sobre a tecnologia para questionar o próprio presente - afinal, muitos de nós também acorda, come e dorme na companhia de um computador, há até quem defenda as vantagens do sexo virtual em termos de saúde pública. 

Certo é que os dispositivos tecnológicos se tornaram apêndices dos nossos corpos, e é a coisa mais próxima que temos de uma alma na era digital. Os alertas já trazem o bafio do tempo dados por figuras maiores como Heidegger ou Huxley. Ainda assim, o filme parece perfeitamente tangível para a sociedade de hoje - e, nesse sentido, retrata igualmente as novas configurações do amor de um modo geral. 

Isto é: o filme não se esgota nesta ideia criativa do amor do homem pela máquina, ou no receio humano por algoritmos inteligentes. Como a generalidade dos filmes de ficção científica, sempre que um homem se apaixona por um robot do sexo feminino, é do medo masculino por mulheres inteligentes e de que a libertação feminina possa conduzir ao domínio das mulheres que estamos a falar.

O drama surge quando a personagem de Joaquin Phoenix comete o erro básico de não distinguir entre "inteligência" e "consciência".  Para mal dos seus pecados, descobre o que poderia muito facilmente ser interpretado como uma traição: afinal, não é o único humano com quem Samantha conversa, foi enganado e manipulado por um sistema operativo “inteligente” mas sem “consciência.”

“Ela”, é a história de um desgosto de amor que respira na sua libertação.

Esta introdução serve apenas como fio de lembrança para chegar à belíssima banda sonora dos Arcade Fire, que preenche grande parte da memória que tenho do filme. Uma pincelada impressionista em jeito de Eric Satie. Podemos ver neste quadro uma espécie de defloramento musical para o amor e a dor de Theodore, que respira a sua libertação quando desliga o computador.

                                                               



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