Se uma cantora numa noite de fim de ano
“Jools Annual Hootenanny” é um programa de televisão apresentado por Jools Holland e transmitido na véspera de Ano Novo como conclusão da sua famosa série “Later ... with Jools Holland”. O programa é transmitido entre as 23h do dia 31 de dezembro e entre 1h e 2h da manhã seguinte no Reino Unido na BBC Two.
A feliz edição 2006/07 juntou o compositor Paul Weller à saudosa Amy Winehouse (juntamente com Holland e a sua orquestra) numa interpretação de “Don’t Go To Strangers” que se tornou um paradigma. Difícil de superar. É uma doce evocação que transpõe esse real de outrora e o fixa para a eternidade.
A canção "Don't go to strangers" foi
originalmente gravada pelos Orioles em 1954. É um standard. Isto
significa que traz agarrado uma interminável fila de nomes que o interpretaram:
Etta James, Joni Mitchell, Chaka Khan, Rufus
Wainwright, etc.
Mas, longe de ser apresentado prosaicamente como uma “novidade vintage”, Paul Weller e Amy Winehouse afirmaram categoricamente o valor sucedâneo deste standard devido à contribuição intensamente expressiva da cantora que ajudou a carimbar a sua reputação como uma das cantoras mais carismáticas e originais que se conhece. No meio da histeria mediática que então gravitava à sua volta - uma boa parcela da música que se ouvia na altura passava por ela - esta canção, para mim, é a sua melhor interpretação e funciona como uma espécie de guarda-vento em relação a qualquer má memória que tenhamos de ordem moral.
Em verdade - a compaixão é crítica - impulsiona-nos a conhecer, a avaliar o valor e não desperdiçar batimentos cardíacos em moralismo de terceira ordem.
Escutar a sua voz tão seminalmente viva e pincelada a várias cores, permite-nos compreender melhor o seu talento que joga aqui num movimento “alado” de equilíbrio ágil, mas difícil, entre gravidade e alegria.
O graal dos duetos de Amy Winhouse.
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