O mago dos sons

  Ainda a minha lista de pianistas preferidos  

                                                        

Ainda a Itália. Apesar de Itália ter tido uma escola de violino prodigiosa e uma escola de cravo igualmente notável, não se pode dizer que se tenha distinguido pelo número e valor dos seus pianistas.

Até aos finais do século XIX era ópera que ali absorvia os espíritos, mas com a secularização progressiva nos países da Europa inventou-se um novo templo de oração: a sala de concerto, com os seus celebrantes, o maestro e o pianista. Reaprendeu-se a música instrumental e instituíram-se as normas da orquestra moderna: disciplina, virtuosismo e a fidelidade às partituras.

 Foi proibida às senhoras usar chapéus nas salas de concerto e  impôs-se um silêncio religioso, propício à audição da música. Como se sabe, até então, entrava-se e sai-se à vontade da plateia, falava-se me voz alta, comia-se, diz-se ainda que a demografia em Itália aumentou nos camarotes…

A partir daqui a vida musical em Itália mudou muito.  É neste terreno quase religioso em relação à música que nasce em Itália aquele que é considerado o mago dos sons: Arturo Benedetti Michelangeli (1920 – 1995). Formado no seu próprio país foi guiado pelos seus professores até à mestria do piano e à compreensão profunda da música. 

                                                              


Poucas pessoas se podem gabar de o ter conhecido na vida real. Era um homem secreto e silencioso. Sobretudo ausente e pouco sociável. Talvez dos professores mais curiosos que existiram. Martha Argerich disse que quase nunca o via quando estava inscrita como sua aluna. Michelangeli ensinava mesmo sem estar fisicamente presente: a sua aura era de tal ordem que bastava que o aluno soubesse que ele estava no edifício para que a sua relação com a música mudasse.

 

Cada gravação deste mago dos sons constitui um espectáculo: a distância respeitosa que o caracterizava torna as suas gravações numa experiência íntima e pessoal. Escutarmos uma balada de Brahms tocada por Michelangeli não nos deixa incólumes.                

                                                      


Esta balada (Balada em si Maior nº 4) é uma das mais célebres de Johannes Brahms. A melodia e a doçura da sua meditação é carregada de emoções fortes: a maestria de Michelangeli conduz-nos à beleza celestial. Que página magnífica.

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