O magnífico infiel

                                                                                  

 

Porque elaboramos listas? Talvez pelo acto de avaliar, de arguir, ao qual nos convida. Creio que o propósito é sair do gosto comum e elaborarmos o exercício crítico sobre o tema que nos interessa. Pode ser também um convite àqueles que queiram absorver-se nesse encontro.

O meu instrumento musical preferido é o piano.  Pelas suas possibilidades técnicas, é considerado um instrumento completo. A sua sonoridade abrange registos que vão dos mais graves aos mais agudos. Por isso, sempre foi o preferido dos compositores ao longo da história da música, que o utilizaram para compor concertos, sonatas, cantatas, etc. Aliás, todo o repertório musical de Chopin é escrito para piano.

Decidi, por isso, elaborar uma lista sobre aqueles que considero os seus melhores intérpretes. E nada como começar por aquele que suscita mais polémica: Glenn Gould. De tal modo que não sei se é mais interessante escutá-lo ou ler as centenas de publicações sobre ele. Mas convém regressar ao essêncial, isto é, às suas interpretações, procurando não nos deixar impressionar pelas "delirantes" considerações sobre ele. Muito em particular as suas célebres Variações Goldberg de J. S. Bach, das quais se pode dizer que que a gravação feita em 1955 praticamente reinventou a obra.

Gleen Gould. Eis pois um intérprete cuja fidelidade ao texto musical muitas vezes se limitava à reprodução das notas pela ordem em que surgiam na partitura. Tempo, ritmo, fraseado, intensidades dinâmicas foram aspectos inteiramente remodolados pelo canadiano, segundo o seu gosto pessoal, e com tanto descaramento e bom resultado que nos convencemos que a sua leitura é autêntica.

 

Por conseguinte, Gould foi um daqueles intérpretes que escondem o compositor debaixo do piano para ficarem sozinhos na fotografia. Muitos pianistas não exitaram em afirmar o pior possível sobre a maneira de tocar, quer dizer, do modo como ele encarava o texto musical. Alfred Brendel, o píncaro do meu panteão pessoal, por exemplo, afirmou ter a maior desconfiança em relação às interpretações de Gould.

 

Por outro lado, o ícone Leonard Bernstein, mesmo sabendo que as escolhas dos tempos musicais de Gould iam contra a própria concepção da obra, aceitava seguir o tempo de Gould: o maestro avaliava bem que não se tratava de um simples capricho do pianista. Com efeito, a técnica pianística de Gould era esplêndida e nenhuma dificuldade parecia poder detê-lo.

 

A famosa lição de Leonard Bernstein sobre Gould, Bach e Shakespeare: 

                                                      

Concerto para piano nº 1 em Ré menor de Bach, o mais célebre dos seus oito concertos: é particularmente trabalhado e a sua interpretação exige um solista altamente virtuoso.

 

Resumindo: Será Gleen Gould um exemplo a seguir? Certamente que não. Terá sido um grande pensador da música? Decididamente não. Terá sido um grande intérprete de primeiro plano? Indubitavelmente que sim.

                                                             



 

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