Dia 412 do ano 2020


“Eu vinha para a vida e dão-me dias”

 

 Homem de Palavra[s] | Ruy Belo | Assírio & Alvim | 2011 

 

                                                          

                                                                                         Imagem: O Espelho Falso, René Magritte, 1935

 

Ruy Belo escreveu (“Poesia Nova", "Na Senda da Poesia", Assírio & Alvim, 2002): “[...] nunca a extensão do poema foi garantia de alta temperatura poética. Pelo contrário, dois ou três versos convenientemente isolados ferem-nos mais, muitas vezes, do que abundantes versos [...]”.

Com efeito, ao fim destes anos todos, este verso ainda me fere o bastante para me continuar a demorar nele; no que nele há de filosofia e no que de poesia há na sua filosofia. Isto é: no que contém de angústia existencial. Afinal, os dias, aquilo que deram a Ruy Belo, ao invés da vida, é o que nos dão a todos. E, não encontramos uma saída para este paradoxo da vida e dos dias. Nem pistas, fragmentos ou janelas. Que é feito da vida real? Quem, nos dias de hoje, ao andar na rua, não sente o céu como o teto opaco da vida, cada esquina a anunciação de palavra nenhuma, em cada máscara a lembrança do silêncio que nos cobre como um rosto?

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