A razão dos dias

 

                                                                



Começa-se o dia a ler e o fascínio intensifica a medida que alonga o tempo presente. É deste modo que a vida aqui em casa se prolonga. O que se tem lido nas entrelinhas dos livros, não é hermenêutica, mas uma terapêutica. O que o livro nos simboliza é uma união pelo interior, a única a sobreviver ao que pelo exterior se desagrega e desgasta pelos dias fora.

O desgaste é realmente a medida do nosso tempo.  Confinadamente e sem surpresa lá vamos esperando as flores de uma cerejeira, o calor carnal do Verão. Quanto de vida se perde à espera de um momento? Quanto há de vida em cada presente?

Os dias adiados repetem-se, mas repetir é desgastar a história pessoal e se vamos por esse caminho mais não fazemos do que desgastar o que se conquistou. Razão pela qual só vamos lendo e ouvindo, com emoção, o que de novo tem saído. À descoberta. Tem sido essa a razão dos dias.

A descoberta de Celeste no início de 2020 quando ninguém contava com uma pandemia, não surgiu apenas embrulhada na sua voz (e na voz da sua voz); isto é, não é possível canalizar essas ondas vocais, as idiossincrasias da sua voz são difíceis de catalogar e facilmente calam comparações com Adele ou Amy Winehouse, como frequentemente se tem dito.

“ Strange” é uma portentosa balada, cantada com brandura e numa doçura triste, um lamento sobre a ilusão de uma constante que nos identifique, enquanto boiam à tona da água sonhos desfeitos. Ao escutar Celeste, ficamos num pasmo silencioso, incapazes de compreender o talento ou razão de ser desta voz, apenas de absorver emocionalmente o impacto agarrados à incredulidade.

                                                      



 

 

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