Razão de longevidade
Comemora-se este mês com o trompete da fama, na opinião deste que escreve, os 40 anos do melhor álbum na história do Rock. Foi em 12 de Dezembro de 1980 que o quarto disco dos Clash veio ao mundo: Sandinista!. Já antes a banda vira a glória universal com a edição de London Calling a ser considerado pela revista Rolling Stone como o melhor álbum da década de oitenta, apesar de ter sido editado em 1979.
Sandinista! fica para Posteridade com letra maiúscula. Um manifesto político. E social, contra a ganância das editoras: um triplo álbum vendido pelo preço de um. Definitivamente o disco entrou para a história da música como algo que misturou política e activismo social e uma projecção à escala global como poucos.
Sandinistas foi o nome pelo qual ficaram conhecidas as
pessoas que na Nicarágua eram filiadas na Frente Sandinista de Libertação
Nacional, partido político socialista assim batizado para homenagear
Augusto César Sandino, o líder da resistência contra a ocupação dos EUA nos
Anos 30 do século passado. As suas acções torná-lo-iam um herói da América
Latina, onde é considerado um símbolo da resistência à dominação dos EUA.
Sandino foi executado pelo general Anastasio Somoza, que subiu ao poder através de um golpe de estado, estabelecendo uma dinastia hereditária que comandou a Nicarágua durante mais de quarenta anos. Em 1979, a FSLN derrubou a ditadura dinástica da família Somoza e estabeleceu um governo revolucionário. No mesmo ano em que os sandinistas assumem o poder é formado os Contras, um grupo financiado e apoiado pelos EUA para derrubar o governo Sandinista.
Sandinista!, é uma homenagem a estas forças da resistência Nicaraguense numa era dominada pelos conservadores Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Nos idos de oitenta a maioria das pessoas não estava interessada em pensar que existia um Reagan cujos funcionários da sua administração na Casa Branca começavam a alimentar o tráfico de cocaína e a canalizar os recursos para o exército dos Contras para combater os sandinistas.
Era o momento de futilidades e não de
ideologias, nem sequer de aprofundamento das consciências. Mas os Clash
desmistificaram as mentiras que se
exibiam como promessas e verdades absolutas, e utilizaram a música como meio de
comunicação de massas de modo a influenciar a sociedade.
Os Clash nunca fizeram música para
entreter yuppies e adolescentes, sempre
souberem entender o que os mantinha à parte era a sua atitude política.
Apesar dos Clash terem sido um dos pilares da explosiva cena Punk britânica, isto é, como percursores do movimento que produziu rompimentos com o rock mainstream da indústria discográfica, não ficaram agarrados a essa estética e largaram as amarras dessa forma cristalizada e foram muito além do Punk misturando diversos estilos.
Esta mudança é um aspecto fundamental na construção da linguagem híbrida de Sandinista! que difere dos moldes identitários do Punk Rock. Prova disso, é “Hitsville UK”, um dos três singles a ser retirado do álbum. É um dueto entre o guitarrista Mick Jones e sua namorada do momento a actriz Ellen Foley.
O título da canção é uma homenagem à Motown Records, que usava o apelido de Hitsville U.S.A. na sua publicidade para se referir à primeira sede da editora em Detroit. É simultaneamente crítica e um elogio à pop, um deleite açucarado que vem questionar as editoras discográficas independentes emergentes do Reino Unido (são feitas referências a várias marcas independentes, Small Wonder, Rough Trade, Fast Product e Factory), apresentando argumentos de peso para que um óptimo single possa triunfar sobre a prática afiada da indústria. E tão natalícia.
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