Como a onda que passa


Cantar. E em que haverá mais verdade do que em cantar? Quantas vezes não cantamos baixinho apenas para nos ouvirmos a nós próprios daquilo que nos alegra ou dói? Decerto que foi por isso que Vergílio Ferreira disse que é a forma mais profunda de sermos em exterior o que somos em interior, e fazermos desta interioridade uma exterioridade que nos acalma. 

Por aqui, em tempos de histeria covidiana de confinamento obrigatório, os gostos e os interesses pessoais são a porta para a transcendência do real imediato.  Por vezes, um simples verso, pela sua luz, pelo ângulo de incidência no isolamento, pode emocionar-me a ponto de aceder aos domínios da evasão.

                                       Black Pumas "Know You Better"
                                   
                                                                
Digo isto, porque ainda não me cansei de ouvir o tom vintage destes tipos, com o que têm de hipnotizante e energia infecciosa. A dosagem refinada de soul, blues, funk e rock, diluem estas linhas do género até ao ponto dialéctico de síntese, à boa maneira hegeliana. 


Apesar dos Black Pumas olharem para os anos 60 e 70, não há vestígios de uma cópia servil, nem uma nostalgia barroca, o nível é demasiado alto para isso. Se as músicas nos transportam lá a trás, permanecem resolutamente modernas. Há aqui um coração abundante de peças raras. Ouvi-los é como um passeio higiénico de alegria, onde poderemos encontrar um arco-irís e enriquecê-lo com a frase “vai ficar tudo bem”.


                                      Black Pumas - Touch The Sky
                                    
                                                              
                                                                                                                                   

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