For the Beauty

For the Beauty

Há canções que se dirigem para fora de si mesmas, verbalizam-nos. Assim acontece com For the Beauty, a canção que abre com anotações sobre a natureza da beleza o último álbum dos Tindersticks. Exercício caprichoso que mais pertence a filósofos e poetas.

Nós, que não somos uma coisa nem outra, e as nossas preocupações práticas do dia-a-dia andam longe de louvar as coisas pela sua elegância e patine refinada, mas  que "We live with our pain", talvez a beleza, seja apenas a ordem e a harmonia com que tentamos rodear as pessoas e as coisas que nos são próximas. Não é coisa pouca.

Irrepreensivelmente madura, For the Beauty, traz a indicação para um andamento lento, num estilo pré-romântico beethoviano (da Sonata ao Luar), que mais parece uma espécie de marcha fúnebre do que um começo para um novo álbum. For the Beauty é uma frase de uma simplicidade surpreendente que nada deixa suspeitar do universo que desencadeia. O seu contorno musical é pouco ornamentado, mas directamente romântico. A atmosfera é de uma certa religiosidade sublinhada pela melancolia, em que a beleza é o centro de um doloroso ecossistema.


Não encontramos aqui a beleza posta ao serviço de causas frívolas ou venais, Staples não nos oferece um lugar confortável em que possamos depositar as nossas esperanças, não temos esse direito num mundo desbussolado como o nosso. Não, a beleza é como um vírus invasivo "That's got its claws in me."

Tomada aqui a sério, a beleza torna-se numa espécie de religião ímpia, em que um deus de significado único pode estar presente num deus de mil significados. Se a beleza é o combustível that sears me , também é um sentimento vital de uma necessidade irreprimivel. Staples transmite-nos isso sem abolir a distância entre aquilo de que nos fala e a voz delicada com que nos (en)canta.

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