Bird Girl



                                                                

Não é certamente por acaso que Antony consagra Bird Girl à automutilação da sua identidade sexual. A assunção do género feminino só podia ecoar ou correr paralela à sua transformação de homem em mulher. Poucas coisas ou nenhumas com esta qualidade no mundo da música foram oferecidas com mais benevolência ao sexo feminino.

A reivindicação do pronome pessoal em boca de mulher, tomando-a por sua, retira-a da grosseira rua masculina - fazendo a libertação subir à janela prisioneira - adornada de asas e de sonhos de atilada fêmea.

Antony transmite-nos essa sensação de leveza que nos transporta qual pluma leve onde as birds girl can fly. Através do cortejamento delicadíssimo do piano, sentimos de facto essa impressão de vagar céu acima, com a lentidão decidida pelo vento doce, e que, momento a momento, nos vai afastando cada vez mais da distinção entre a fala masculina e feminina, e apena nos conduz a uma fala autónoma que nos aproxima das coisas trazidas pelo sonho e pela fantasia.

E era só.

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