O que as palavras não dizem


                                                         


Thais, de Jules Massenet, é uma belíssima realização de um drama musical baseado no romance homónimo de Anatole France. A poesia sonora de Massenet mergulha por isso as suas raízes na literatura, entre a paixão amorosa e a aspiração religiosa. Embora a ópera esteja repleta de grandes composições, não há dúvida de que o momento mais alto da peça é - A Meditação de Thais. Desenhada para violino solo, esta passagem é uma requintada joia lírica.


                                                                      


Mas quem diria que se trata aqui de uma luta de Thais durante toda a meditação? Só porque ela ao olhar para trás não consegue enfrentar o futuro com um sorriso? A luta com a sua sombra passada de meretriz é a única real. Como Deleuze nos diz, em arte, tanto na pintura como na música, não se trata de reproduzir ou inventar formas, mas sim de captar forças. É assim que a música trata de tornar sonoras forças não sonoras.


 A composição de Massenet defronta a força invisível que condiciona Thais, e liberta-a. Tratando-se de meditação, Massenet cedo percebeu que as palavras aqui nada têm a dizer. Como na poesia, esta é uma peça que espia os silêncios, naquilo que neles importa à meditação. Na meditação, como na poesia e na música, deambulamos nos confins da linguagem. Sem balizas, apenas viagem mental.

É essa melancolia que Massenet nos oferece com esta sonoridade polida com frases musicais cheias de charme. No entanto, sendo a “meditação” operática, isto é, vocal, paradoxalmente, indica o não dito. Tal é delicadeza do fraseado sobre a linha melódica, dando à peça uma sensação verdadeiramente espiritual.

O virtuosismo sem falhas de Maxim Vengerov num abrandamento do ritmo face a outras interpretações, transmite-nos a sensação de epílogo. O que me agrada especialmente - restando um pergunta; haverá palavras definitivas? Como diria Bellini – de encantar os ouvidos e tocar os corações.



Comentários

  1. Como diria Bellini ( e diria muito bem ! )de encantar os ouvidos e tocar os corações...
    Mel para os ouvidos. E sim , sai o prêmio Nobel da literatura para si...

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    1. ah ah ah. Babe e ainda Babe. Diria mais. capaz de iluminar as estradas que levam ao caminho. Babe.

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    2. E quem percorre essas estradas não precisa de outros tesouros, Babe grande Babe!!!!

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