Hypotypoun
Primeiro uma
linha contínua
da ponta do
pé ao búzio da orelha
ao longo da
qual inspirasse na pele picada de sol
o perfume
que misturei para ti
leite e
cominhos.
No decalque
a lápis acrescem depois curvaturas.
A falésia do
pescoço
a projecção
do peito
a orografia
das coxas
a volta do
escroto
onde
escorresse
um fio de
sal
quente como
uma verdade
fiquei
petrícola.
A minha boca
persegue a visão
entre o
indicador e o polegar
a boca
precisa de ver
engolir
beijando
a salicórnia
delicada
sugar a
fissura
e lamber o
espaçamento para o fixar
entre os
lábios
o centro da
fenda esculpido
morder ao
menos a tua mansidão
indiferente
no dia em
que amanheceu de manhã.
Terra à
vista, homem ao mar.
A pátina
ourada
que lava
nas luzes
fátuas
da anémonas
de fósforo do projector:
onde os
olhos do mundo prendem outro sentido, vislumbrei,
através do monóculo,
a loucura
nada-morta
a loucura
nada morta
a loucura
nada morta.
Homem à
vista, terra ao mar.
Uma aspiração
de mármore em que a tua figura
surgisse inteira
e espessa
outra vez
fio desfeito.
Amândio
Reis, Hypotypoun | SPINALONGA | Língua Morta 2019
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