A MONTANHA MÁGICA Revisited VII
A NEVE
O Canto do
Cisne
A impressionante paisagem “Tempestade de neve: Aníbal cruza os Alpes” (1812) de William Turner, é uma importante obra do Romantismo onde se descreve os elementos como expressão das sublimes e potentes forças da Natureza. Também a obra de Thomas Mann foi aplaudida como uma obra de arte verdadeiramente moderna, sendo um herdeiro do Romantismo, “A Montanha Mágica” vem magistralmente desenhada também com todos esses traços. No capítulo a “Neve”, alguns deles, constituem uma verdadeira antologia de toda a História da Literatura Universal; o naturalismo, o inóspito, a subjectividade, o sonho e o lirismo.
“A Neve”, o mais famoso de todos os capítulos, é considerado como o canto do cisne. É um poema sinfónico que surge directamente da pintura. Uma moldura glacial que exala calor e frio. Um poema contrapontístico de preto e branco, de morte e de vida, mas com a harmonia de todas as suas cores.
Castorp, decidido a fazer um passeio de esqui nos Alpes, perde-se no meio de uma tempestade de neve, um “caos das trevas esbranquiçadas” (Pág.539) que o transporta para um “mundo de silêncio insondável”. Um lugar de monstruosa indiferença da natureza que o encanta e aterroriza. Com Castorp, dançamos os elementos cegos da natureza, vemos o sol que flui com luz branca e quente, mas quando toca a escuridão, gela.
A neve, que tudo encobre, revela-lhe a fragilidade da sua condição corporal envolvido pela agressividade da natureza. A perda de segurança fá-lo adquirir uma maior consciência da impotência perante as forças da natureza e, por consequência, da doença.
É o momento de viragem no romance. É o momento em que se “apercebe que falava sozinho”(pág. 545), sem a intermediação de Settembrini,”«não se deixando subordinar a conceitos universais”, e de Naphta, “cujos princípios e concepções partilhavam de toda a matéria sombria, penetrantemente jesuítica, misantrópica, indutora de tortura e flagelação” pág. 547.
A Neve, é uma bela peça de virtuosismo narrativo. É Neve Mágica com poderes de revelação:
“Mas quem conhece o corpo e a vida, conhece também a morte. E com isto não fica a história terminada, digamos que é simplesmente o princípio, de um ponto de vista pedagógico. É necessário contrapor-lhe o outro lado da questão, o reverso da medalha. É que todo o interesse pela morte e pela doença não passa de uma manifestação do interesse pela vida.” Pág. 558.
Sem as intermediações de Settembrini e Naphta, Castorp, sozinho no meio a uma imensa paisagem branca, desprendido da planície e do mundo, liricamente, aí reside a sua liberdade.
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