A linguagem da transcendência

                                          
                                                                            

Embora se execute muitas vezes com menos de mil intérpretes, a portentosa e excepcional “Sinfonia dos mil” de Gustav Mahler é a obra coral de maior escala da música clássica, e uma das minhas preferidas. Mahler rompeu aqui com a estrutura convencional, em vez de seguir a estrutura normal com vários andamentos, a obra está dividida apenas em duas partes. A primeira parte, que não me interessa agora, é baseada num hino cristão para as celebrações da Páscoa. A segunda, parte da literatura para a música, e é baseada na cena final do Fausto de Goethe como cantata dramática. Este arranjo de Mahler da cena final do Fausto, inclui um ideal de redenção através do eterno.

Esta expressão de confiança no eterno espírito humano, acaba por ser tanto uma celebração da vida como da morte, já que reflecte a dualidade da existência humana: Fausto ao mostrar “a procura” como fonte pulsante da vida, adquire também importância universal do homem que procura dar significado à vida pela necessidade de tocar o transcendente para lá da margem dos dias.

Para compreendermos a Oitava, Mahler disse que tínhamos de imaginar o universo inteiro a soar e a ressoar. E se os nossos ouvidos conseguirem aí chegar, então já não se trata mais de vozes humanas, mas de planetas e de sóis em plena rotação.

Quanto a mim, comovo-me até à raiz ao escutar isto e não sei bem porquê. Talvez, porque sou coisa insignificante e mortal, face à última noite sem vindoura aurora.

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