SEM PEDRAS NÃO HÁ ARCO



Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Kan?
- A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra - responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.
Polo responde: - Sem pedras não há arco.

Italo Calvino, As cidades invisíveis. Tradução de José Colaço Barreiros. Editorial Teorema (2008).                 
                                                     
Ponde di Rialto, o coração histórico de Veneza.

O diálogo entre Marco Polo e Kublai Kan é uma bonita metáfora sobre organização social e que nos leva a um encantador pergaminho metafísico. Para que as pedras encaixem uma na outra, é necessário perfazer uma curva, “um arco”, a força que a posição relativa delas gera é o “arco” que as sustentará, e esse arco só existe porque as pedras foram colocadas numa determinada forma. O arco não é a soma das pedras. É mais do que a soma das pedras. É a soma das pedras naquela forma, forma essa que faz surgir uma organização que é mais do que a soma das pedras. O seu ser organizacional. Quando Kublai Kan pergunta qual a pedra que sustenta a ponte, só está interessado em achar o arco, isto é, o resultado da organização das pedras, o efeito é a causa da causa – o homem. O homem é o “arco da ponte” de Marco Polo e Kublai Kan. A questão que o texto coloca é a seguinte: como lidar com o arco organizacional social? Entendendo-o como unido - como aquela ponte – ou como pedras soltas, individualizadas?






Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Reprodução Proibida

MORRER AO TEU LADO

A linguagem da transcendência