A CATEQUESE DAS FEZES


Poeta maldito e da desobediência, Pier Paolo Pasolini, crítico literário, cineasta e pintor, num dos seus poemas mais citados, Da Condição Humana”, escreve como sendo:  “O mais moderno de todos os modernos/Procurando irmãos que não o são mais.”

Num extremo mais agudo, assim acontecia também com Marquês de Sade, que “era de si próprio o único semelhante”. A estes dois fora da norma, podemos juntar Michael Patton, também um pária do seu tempo e voz mestra de si mesmo.                                      

                                                 
Estudou literatura (sem concluir o curso), quis ser escritor, mas cedo descobriu a ingratidão financeira de quem vive da palavra escrita. Decide cantá-la. Conhecido como o "Senhor das Mil Vozes", de entre os projectos em que participa, destaca-se como vocalista de uma das mais marcantes bandas do cenário alternativo norte-americano, os Faith No More.
As suas qualidades vocais têm sido alvo de aprofundado interesse. Nunca estudou canto e, segundo afirma, nunca estudará. Inevitavelmente, o talento vocal de Patton desenvolveu-se de tal forma que o levou ao bel canto, o que nos possibilitou vê-lo a cantar ópera, no seu projecto intitulado Mondo Cane.                                                        
A sua amplitude vocal faz com que seja um dos melhores intérpretes da música rock. O seu registo de voz tanto pode ser calmante e relaxante, para, de seguida, vomitar bílis de histeria com gritos malévolos e aterradores, numa espécie de esquizofrenia vocal. Ao escutá-lo sentimo-nos como visitantes a uma espécie de manicómio. E o efeito é mais inquietante do que vê-lo louco. O homem é louco.  

Abrasivo e alucinante, é o que Patton tem feito nesta área musical. Afinal, o que é que leva um ser humano a defecar para o sumo de laranja de Axel Rose dos Guns N'Roses? O episódio é relatado no livro, “Rock Star Babylon “,de Jon Holmes, e ter-se-á passado na digressão que trouxe as duas bandas ao Estádio de Alvalade em 1992.

O livro de Jon Holmes refere que Patton costumava atormentar o vocalista dos Guns N'Roses com actividades que envolviam fezes e urina. Numa ocasião, e passo a citar, “Mike cagou num pacote de sumo de laranja, voltou a selá-lo e pô-lo outra vez na vending machine pessoal de Axel Rose”. Segundo o autor, Patton também terá “mijado por cima de todos os papéis com indicações de palco que os Guns N'Roses tinham em palco”.

O bullying de Patton, que chegou a definir-se como “um terrorista da merda” ,sobre Axel Rose não ficou por aqui. O vocalista dos Faith No More também “cagava, enrolava (as fezes) numa bola e punha no secador de cabelo para que o próximo a secar o cabelo levasse com merda quente na cara.”

E é não isso que ele está a celebrar em “Evidence”?, repare-se a molhar o dedo na bebida, para de seguida o levar aos lábios. Com um estranho e animado riso, Patton canta a merda do meio em que vive(mos) e lava o sabor dessa evidência: “Got to wash away the taste of evidence”.
                                                            
                                                      

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