O Homem Armado – Missa pela Paz
“O Homem Armado – Missa pela Paz”, de Karl Jenkins, é tão relevante para os nossos tempos, sombrios e, por
vezes, tempos que nos confrontam com declarações alarmantes (como as de Vladimir Putin sobre
o colapso do sistema internacional de contenção nuclear), quanto o foi na
altura em que este oratório foi composto para as vítimas da guerra do Kosovo em
1999. É um texto renascentista francês chamado l’homme armé, que nos diz basicamente
que o homem armado deve ser temido. Jenkins construiu esta peça não tanto baseado
na ideia da crescente ascendência da sociedade para o conflito, mas na perspectiva
da paz. Em mais do que uma língua, do latim ao francês, passando pelo inglês, Jenkins
foi capaz de capturar a mistura de sentimentos de horror, assim como os de
alegria, não os de vitória, mas os de regresso a casa.
Abertura: O Homem Armado
A peça começa com uma
representação de pés em marcha, sobrepostos posteriormente pelos tons
estridentes de um piccolo de modo a representar as flautas de uma banda militar.
E isto flui sem que soe de forma forçada em estilos tão contrastantes de música, algo
que não esperaríamos para uma peça de música clássica. A marcha em direcção ao campo
de batalha ecoa através do coro, dos tambores, dos violinos, das trombetas e
passos de percussão, todos unidos para criar o cenário da guerra.
Se o primeiro andamento exige uma
energia suplementar por parte da percussão e pelos gritos do coro que evocam
convincentemente a determinação marcial cega em direcção ao terror da guerra, isso
é temperado pela frágil esperança nos andamentos finais, “Benedictus” e “Better
is Peace”. O Benedictus é realizado com grande ternura, e instintivamente
entendemos como a linha melódica vem rasurar as linhas entre as emoções de
tristeza e alegria. Este apaziguamento constitui um lenitivo de reflexão. Se a
primeira parte do cântico nos reporta ao agradecimento pelo cumprimento das
esperanças (messiânicas), a segunda, é um discurso de redenção. Benedictus é
“o” oratório de Natal excepcionalmente comovente e relevante para o século XXI.
“O Homem Armado- Missa pela Paz”, é o testemunho de um soçobrar e de uma
deriva, de um mundo sem rumo, sem mapa, sem bússola, mas que vai sendo
construído até ser navegação, descoberta e redescoberta de um porto de chegada;
nele, somos nós, ao escutarmos o apelo de Jenkins, quem vai projectando e
alimentando as expectativas quanto a um desfecho de paz.
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