O salto
variações
sobre um tema
Heidegger,
Pessoa e Kafka formam um caleidoscópio de personalidades que, no seu conjunto, originaram
uma indiscutível “figura mítica” admirada e cultivada. Especializaram-se em
pensamento, mas não em lógica (apesar de Heidegger lhe conhecer bem os
contornos). São analíticos, profundamente analíticos. Fazem parte de uma linhagem
a que poderíamos juntar Freud.
Repensaram a
linguagem, não mais como um
instrumento pelo qual o sujeito se apropria e desapropria de acordo com a própria
vontade, mas, como diria Heidegger, como a própria casa do ser. A função de
comunicação é apenas uma das múltiplas possibilidades da linguagem.
Sem eles,
como diria George Steiner, “o espírito moderno, os reflexos da discussão e do
questionamento pelos quais conduzimos as nossas vidas interiores, não seriam
concebíveis”. De facto, compartilham a noção de que o mundo, a criação, se
tinha formado com letras e sons. E mesmo no plano individual “a palavra revela
tudo”, e “é a própria alma do individuo”.
“O homem age
como se fosse o senhor e mestre da linguagem, enquanto que na verdade a
linguagem permanece mestre do homem.” (Martin Heidegger)
Nunca
chegamos aos pensamentos. São eles que vêm. (Martin Heidegger)
“O poeta é
um fingidor…” (Pessoa)
“Escrevo
diferentemente do que penso, penso diferentemente do que deveria pensar e assim
por diante até ao fino fundo da obscuridade.” (Kafka)
“Serei
sempre o que lhe esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta.”
(Pessoa)
“Mas se
atrás de uma porta fechada que nós vigiamos para que não se abra, ou melhor,
para que não a abramos, porque ela não se abrirá por si mesma.” (Kafka)
Comentários
Enviar um comentário