“A alta sacerdotisa da alma”


                    
As canções de Nina Simone transformaram-se num comentário à sua vida pessoal. E, se quisermos vulgarizar ainda mais o comentário, é limitarmo-nos a dizer que foi “uma das maiores etc. da música negra”, a “melhor de tal e tal”, por aí fora. Não é que tudo isso seja irrelevante. Mas é a abordagem bocejante e agrilhoada ao reles e barato senso-comum. Certo, é que a sua música provoca a detonação da minha vida interior. Ouço-a, e apercebo-me da obliteração que ela faz entre o que sente e o que se pode transmitir, agraciando-me com um canal directo à sua alma. Por isso, se diz, que é uma alta sacerdotisa. “Come ye”, é algo tão outro, tão fora de qualquer narrativa ou noção de verdade, seja ela relativa ou absoluta, mas é, antes, a urgência de uma prece: “vem.” Qualquer grande canção, durante o instante que lhe estamos expostos, parece a melhor coisa de sempre.


Come ye

Vinde, vós, que teríeis paz

Ouçam-me o que eu digo agora

eu digo Vinde, vós, que teríeis paz

É hora de aprender a orar



eu digo Vinde, vós, que eu não tenho medo

O amanhã traz o filho

Começa a orar por um mundo melhor

Ou paz e todas as coisas boas



eu digo Vinde, vós, que ainda tendes esperança

Que ainda podemos sobreviver

Vamos trabalhar juntos como deveríamos

E lutar para permanecermos vivos



eu digo Vinde, vós, que teríamos amor

É hora de tomar uma posição

Não importa o que há pagar

Pelo amor do teu companheiro



eu digo vinde vinde

Quem tende esperança

Quem tende esperança

Quem tende esperança

Quem tende esperança






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