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A mostrar mensagens de dezembro, 2020

POEMA DE NATAL

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                                                                             Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se ...

Ouvir para mim mesmo

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    Ultimamente tenho dialogado pelas páginas dos dias com George Steiner. Ele defende algo que considera perigoso: a revolução de hoje é a música em que acreditamos. O kitsch e o ruído organizado são uma constante no nosso mundo, sabemo-lo. O progresso, como eu o entendo, está longe do que é medido e quantificado - é uma qualificação crescente da qualidade. Não dizemos melhor de ano para ano: dizemos mais. É difícil escapar a esta culpa logorreica.  A afirmação de Steiner é tanto mais perigosa quanto se podia encontrar um torcionário dos campos de concentração nazi a cantarolar Schubert. É possível abusar politicamente da obra de Beethoven ou de Wagner. Não é novidade esta afinidade metafísica entre a sensibilidade artística e o apocalipse social, muitos escritores fizeram desta temática o seu filão.     Há na afirmação de Steiner uma confusão de valores extremamente profunda, aliás, assumida por ele. No entanto, para muitos seres humanos, alguns adág...