As voltas que demos para aqui chegar


“O amor está por reinventar”
- Rimbaud
                                                         


                                                                 

“As voltas que demos para aqui chegar”, em tradução livre para The Turns We Took, é mais uma das elegantes referências dos Tindersticks. Onde muitos dos seus contemporâneos da música indie são directos nas suas letras, os Tindersticks elaboram canções densas com uma forte dimensão literária, de entrelaçadas melodias, vocais que muitas vezes mais parecem murmúrios, com orquestrações assumidamente melancólicas, e que perpassam os nossos fantasmas. Em essência, filtraram o romantismo da estética indie rock, purificando-o, tornando-o mais sombrio, para trazer à luz uma veia mais autêntica.

 A canção não fala propriamente de amor, mas de caminhos, desperta-nos para a insistência de certos trajetos. No entanto, a irreverente citação de Rimbaud, na verdade, um projéctil de precisão, leva-nos a divertirmo-nos a defender a universalidade da causa, posto que ainda não faz parte do índex dos temas proibidos. Por isso, As voltas que demos para aqui chegar, não é o amor de uma experiência controlada, fechada e limitada. O amor não é isso. O amor assemelha-se à sorte que o toureiro enfrenta na arena. Quando ele não envolve riscos, afoga-se no tédio das águas paradas. Ele há-de ser como um jogo que nos vira do avesso e que oculta sempre o seu desfecho, dêem-se “as voltas que se der para aqui chegar”.



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