A VERDADE QUE SÓ AS TREVAS TRAZEM
Em nome dos
que choram,
Dos que
sofrem,
Dos que
acendem na noite o facho da revolta
E que de
noite morrem,
Com a
esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos
que sonham com palavras
De amor e
paz que nunca foram ditas,
Em nome dos
que rezam em silêncio
E falam em
silêncio
E estendem
em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos
que pedem em segredo
A esmola que
os humilha e os destrói
E devoram as
lágrimas e o medo
Quando a
fome lhes dói.
Em nome dos
que dormem ao relento
Numa cama de
chuva com lençóis de vento
O sono da
miséria, terrível e profundo.
Em nome dos
teus filhos que esqueceste,
Filho de
Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra
vez ao mundo!
Ary dos
Santos, Kyrie,
José Ary dos
Santos, Liturgia do Sangue, 1963.
Mozart:
Grande Missa em Dó Menor, K427 – Kyrie.
Gardiner dirige a Royal Estocolmo Filarmónica
Orquestra as solistas e o Coro de Monteverdi.
Kyrie
eleison (Senhor, tende piedade) é uma oração da liturgia cristã. Faz parte das
missas, cantadas ou não. Justifica-se a sobreexposição da Missa em Dó Menor de Mozart e o Kyrie de Ary dos Santos pela contraposição singular entre ambos: enquanto a “oração” pede piedade para nós, o Kyrie de Ary dos Santos pede piedade para os outros, mas... os outros estão assim por falta do nosso respeito e compaixão.
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