Como Orfeu,
toco
a morte nas
cordas da vida
e à beleza
do mundo
e dos teus
olhos que regem o céu
só sei dizer
trevas.
Não te
esqueças que também tu, subitamente,
naquela
manhã, quando o teu leito
estava ainda
húmido de orvalho e o cravo
dormia no
teu coração,
viste o rio
negro
passar por
ti.
Com a corda
do silêncio
tensa sobre
a onda de sangue,
dedilhei o
teu coração vibrante.
A tua
madeixa transformou-se
na cabeleira
de sombras da noite,
os flocos
negros da escuridão
nevavam
sobre o teu rosto.
E eu não te
pertenço.
Ambos nos
lamentamos agora.
Mas, como
Orfeu, sei
a vida ao
lado da morte,
e revejo-me
no azul
dos teus
olhos fechados para sempre.
Ingeborg
Bachmann, O tempo Aprazado. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e
Judite Berkemeier. Assírio
& Alvim Editores, 1992.
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